O relato de caso que irei compartilhar é da minha esposa.
Ela começou a se queixar de dor na sola do pé há alguns dias. A dor era na região medial, anteriormente ao calcâneo. Certa noite, no sofá, enquanto assistíamos a um filme, ela pediu que eu massageasse o pé dolorido. Sem objetivo terapêutico, fiz uma massagem leve.
No dia seguinte, ela relatou piora das dores e disse que estava com dificuldades para andar. Então, mais tarde, fiz a avaliação e o tratamento.
Além das dores na sola do pé, há algumas semanas ela vinha tendo sintomas relacionados à menstruação. Desde a gestação da nossa filha, que está com 1 ano e 10 meses, a sua menstruação não vem. Alguns dias antes das dores no pé iniciarem, ela se queixou de algumas cólicas e teve um leve sangramento, não contínuo. Antes das duas gestações, ela apresentava ovários micropolicísticos, com ciclos menstruais irregulares e histórico de muitos anos fazendo uso de anticoncepcionais.
Na avaliação, havia sensibilidade excessiva nos testes osteopáticos dos ovários, restrição de mobilidade e muita sensibilidade na vértebra L1 e no Sacro.
Realizei tratamento osteopático com abordagem visceral dos ovários e abordagem estrutural, articulatória, na vértebra L1 e no Sacro.
Nenhum tratamento foi feito no pé, local da dor aguda.
Logo após o tratamento, ela referiu mudança no local da dor, se deslocando para lateral, com pouco alívio. No dia seguinte, ao levantar-se da cama, as dores permaneciam, com pouco alívio. Durante o dia, os sintomas foram reduzindo significativamente, com melhora de 80% no quadro de dor. No dia subsequente, a dor no pé desapareceu.

INTERPRETAÇÃO:
Pela minha hipótese, tratava-se de um reflexo víscero-somático. Nesse caso, a disfunção dos ovários gerou a sensibilização dos níveis medulares que controlam os ovários, gerando as disfunções tanto em L1 quanto no sacro.
O controle visceral é de responsabilidade do sistema nervoso autônomo. No caso dos ovários, a inervação simpática dá-se pelos níveis T11-L1, através do plexo ovárico e nervos esplâncnicos lombares. Já a inervação parassimpática dá-se pelos níveis S2-S4, pelo plexo hipogástrico inferior, através dos nervos esplâncnicos pélvicos. As fibras aferentes seguem esses mesmos trajetos da eferência autônoma.

Por que a dor no pé?
Devido ao processo de sensibilização central, já descrito em outro tópico, a dor no pé está relacionada aos níveis S2-S4. O nervo isquiático (ciático), que dará origem aos nervos fibular comum e ao nervo tibial, recebe a sensibilidade de todo o segmento abaixo do joelho. O local da dor eram de responsabilidade de ramos do nervo tibial, que tem origem no nível medular de S1-S2, os mesmos níveis de parte da inervação dos ovários.